Com quem a
Igreja caminha
“Todas as vezes que fizeram isso a um
dos menores de meus irmãos,
foi a mim que o fizeram” (Mt 25:40)
foi a mim que o fizeram” (Mt 25:40)
Existe uma pequena e peculiar igreja anglicana na cidade de
Okaya, região central do Japão. Sua aparência externa com a cruz no topo lembra
que estrangeiros ocidentais estiveram lá, mas o piso de tatame no seu interior
sugere que sua construção foi pensada para atender e acolher a população local.
St. Barnabas Church é fruto da evangelização da Igreja
Anglicana do Canadá nos anos 1920 e do trabalho missionário do Rev. Hollis
Corey na região que hoje faz parte da Diocese Anglicana de Chubu (Central) do
Japão. Nos planos de construção da pequena igreja, a Missão Canadense orientou
que esta fosse erguida numa cidade das famosas áreas de termas naturais, que já
estavam, literalmente, “efervescentes”. Mas Corey queria uma igreja num local
que pudesse servir às pessoas mais sofridas.
A cidade de Okaya, na época, era produtora de seda. A maior
parte da população era de meninas pobres de 14 a 18 anos, que vinham do outro
lado da montanha para a cidade, e trabalhavam na fabricação da seda. Para se
ter uma ideia da situação em que viviam, na biblioteca da cidade há um
documento intitulado “História da Opressão das Mulheres Operárias de Okaya”, que
é resultado de uma pesquisa do Partido Comunista sobre as condições de trabalho
extremamente penosas das meninas.
Exatamente por isso é que Corey decidiu que a igreja tinha
que ser construída ali. A Missão Canadense foi contra: aquela população de meninas
não ficava na cidade permanentemente, mas em função da temporada de trabalho na
fábrica; mesmo que se tornassem frequentadoras, as meninas eram pobres e não
poderiam sustentar a igreja. No entanto, Corey estava convicto: “Na questão
financeira, Deus há de nos prover.”
Contrariando a orientação da Missão, a igreja está lá, como
um “milagre”. O piso de tatame, tal como o das residências típicas japonesas,
foi um pedido das meninas operárias, que, em geral, trabalhavam 16 horas por
dia, com cerca de somente 40 minutos de descanso, sentadas em cadeiras duras de
madeira sem almofadas. Então elas queriam que, na igreja, pudessem se sentir como
se tivessem voltado para suas casas. E a igreja era literalmente a casa das
meninas. (A origem da palavra “igreja” é do grego “oikos” e seu sentido
original era exatamente “casa”.)
St. Barnabas serviu para curar, confortar, encorajar as
meninas e restituirlhes a dignidade e autoestima. Em 2008, quando a igreja
celebrou seus 80 anos, uma senhora de 96 anos, que tinha sido uma menina
operária da seda, comentou sobre seu significado: “Eu chegava correndo na igreja,
na mão levando apenas aquele meu pouco dinheirinho como oferta, mas o reverendo
alto de olhos azuis, aguardando ao pé da escada, me abraçava e dizia: “Que bom
que você veio!”. Eu quase não entendia nada de seu sermão, mas com o abraço caloroso
do reverendo, eu vertia lágrimas. A igreja com certeza era o paraíso.”
No entender do Rev. Nishihara, atual responsável pela igreja,
“a Bíblia, para as meninas operárias, não era uma obra escrita há 2 mil anos,
mas sim um alimento para a vida presente e futura. Talvez mais do que os
melhores teólogos e os famosos pastores, elas é que extraíam o verdadeiro
significado do Evangelho.”
Segundo Nishihara, o papel das pessoas, como ele, ligadas a
instituições de ensino da Igreja Anglicana do Japão deve ser não só trazer à
luz histórias de famosos pastores e teólogos, de grandes igrejas, escolas e
obras, mas também deve ser de jogar luz sobre cada história em que a Igreja
enxugou lágrimas de comunidades, ainda que pequenas. “Penso que o importante é
dar um lugar de destaque a este “milagre” dentro da história da Missão Anglicana
e da Igreja Anglicana no Japão.” E continua: “O que aprendemos com histórias
como esta é que a Igreja olha e cuida dos pequenos.
Ela tem andado com as pessoas mais fracas e aquelas que estão sujeitas a viver
com dores e peso em suas costas. Penso que nossa missão, como escola da Igreja,
é promover uma educação que dá total importância para o olhar para os pequenos
da sociedade.”
Baseado no artigo de
Renta Nishihara, Reverendo da Diocese de Chubu (Central), responsável pela
Igreja de São Barnabé em Okaya, Província de Nagano, e vicereitor da Universidade
Rikkyo (Anglicana),Tóquio: 聖公会が大切にしてきたもの “Pessoas que a Igreja Anglicana tem tratado
com carinho”
(Tradução da Revda.
Carmen Akemi Kawano, a pedido do Sr. Itsuro Yazaki)
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