sexta-feira, 21 de novembro de 2014


Com quem a Igreja caminha


“Todas as vezes que fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, 
foi a mim que o fizeram” (Mt 25:40)

Existe uma pequena e peculiar igreja anglicana na cidade de Okaya, região central do Japão. Sua aparência externa com a cruz no topo lembra que estrangeiros ocidentais estiveram lá, mas o piso de tatame no seu interior sugere que sua construção foi pensada para atender e acolher a população local.
St. Barnabas Church é fruto da evangelização da Igreja Anglicana do Canadá nos anos 1920 e do trabalho missionário do Rev. Hollis Corey na região que hoje faz parte da Diocese Anglicana de Chubu (Central) do Japão. Nos planos de construção da pequena igreja, a Missão Canadense orientou que esta fosse erguida numa cidade das famosas áreas de termas naturais, que já estavam, literalmente, “efervescentes”. Mas Corey queria uma igreja num local que pudesse servir às pessoas mais sofridas.
A cidade de Okaya, na época, era produtora de seda. A maior parte da população era de meninas pobres de 14 a 18 anos, que vinham do outro lado da montanha para a cidade, e trabalhavam na fabricação da seda. Para se ter uma ideia da situação em que viviam, na biblioteca da cidade há um documento intitulado “História da Opressão das Mulheres Operárias de Okaya”, que é resultado de uma pesquisa do Partido Comunista sobre as condições de trabalho extremamente penosas das meninas.
Exatamente por isso é que Corey decidiu que a igreja tinha que ser construída ali. A Missão Canadense foi contra: aquela população de meninas não ficava na cidade permanentemente, mas em função da temporada de trabalho na fábrica; mesmo que se tornassem frequentadoras, as meninas eram pobres e não poderiam sustentar a igreja. No entanto, Corey estava convicto: “Na questão financeira, Deus há de nos prover.”
Contrariando a orientação da Missão, a igreja está lá, como um “milagre”. O piso de tatame, tal como o das residências típicas japonesas, foi um pedido das meninas operárias, que, em geral, trabalhavam 16 horas por dia, com cerca de somente 40 minutos de descanso, sentadas em cadeiras duras de madeira sem almofadas. Então elas queriam que, na igreja, pudessem se sentir como se tivessem voltado para suas casas. E a igreja era literalmente a casa das meninas. (A origem da palavra “igreja” é do grego “oikos” e seu sentido original era exatamente “casa”.)
St. Barnabas serviu para curar, confortar, encorajar as meninas e restituir­lhes a dignidade e autoestima. Em 2008, quando a igreja celebrou seus 80 anos, uma senhora de 96 anos, que tinha sido uma menina operária da seda, comentou sobre seu significado: “Eu chegava correndo na igreja, na mão levando apenas aquele meu pouco dinheirinho como oferta, mas o reverendo alto de olhos azuis, aguardando ao pé da escada, me abraçava e dizia: “Que bom que você veio!”. Eu quase não entendia nada de seu sermão, mas com o abraço caloroso do reverendo, eu vertia lágrimas. A igreja com certeza era o paraíso.”

No entender do Rev. Nishihara, atual responsável pela igreja, “a Bíblia, para as meninas operárias, não era uma obra escrita há 2 mil anos, mas sim um alimento para a vida presente e futura. Talvez mais do que os melhores teólogos e os famosos pastores, elas é que extraíam o verdadeiro significado do Evangelho.”
Segundo Nishihara, o papel das pessoas, como ele, ligadas a instituições de ensino da Igreja Anglicana do Japão deve ser não só trazer à luz histórias de famosos pastores e teólogos, de grandes igrejas, escolas e obras, mas também deve ser de jogar luz sobre cada história em que a Igreja enxugou lágrimas de comunidades, ainda que pequenas. “Penso que o importante é dar um lugar de destaque a este “milagre” dentro da história da Missão Anglicana e da Igreja Anglicana no Japão.” E continua: “O que aprendemos com histórias como esta é que a Igreja olha e cuida dos pequenos. Ela tem andado com as pessoas mais fracas e aquelas que estão sujeitas a viver com dores e peso em suas costas. Penso que nossa missão, como escola da Igreja, é promover uma educação que dá total importância para o olhar para os pequenos da sociedade.”

Baseado no artigo de Renta Nishihara, Reverendo da Diocese de Chubu (Central), responsável pela Igreja de São Barnabé em Okaya, Província de Nagano, e vice­reitor da Universidade Rikkyo (Anglicana),Tóquio: 聖公会が大切にしてきたもの “Pessoas que a Igreja Anglicana tem tratado com carinho”

(Tradução da Revda. Carmen Akemi Kawano, a pedido do Sr. Itsuro Yazaki)


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