sábado, 15 de novembro de 2014

Desculpas socialmente aceitáveis

Desculpas socialmente aceitáveis



Mensagem para o 23º Domingo depois de Pentecostes
Ano A, Próprio 28, 16/11/14
Sf 1.7, 12-18; Sl 90.1-8, 12; 1 Ts 5.1-10; Mt 25.14-15, 19-29

Há alguns anos, o grande fenômeno editorial eram os livros de administração que tratavam de temas como “qualidade total”, “reengenharia” etc. Muita gente torceu o nariz pra esse tipo de literatura, pois a considerava um amontoado de conselhos e fórmulas que poucas vezes davam certo. Mas foi num desses livros que encontrei uma expressão que vai nos ajudar na meditação de hoje. O livro tratava de gerenciamento de recursos humanos em pequenos negócios. Dizia o autor que os empreendimentos em que entramos ao longo da vida tanto podem dar certo como podem dar errado. Quando dão certo, tudo bem, mas quando dão errado é que são as coisas.
É aí que as pessoas ficam na defensiva e passam a usar “desculpas socialmente aceitáveis para o seu fracasso”. Falam das razões das coisas não terem dado certo sem, no entanto, se responsabilizarem . Trata-se, na verdade, do famoso “livrar a cara”. Com isso, as verdadeiras causas do empreendimento ter fracassado ficam encobertas e acabam não servindo nem como experiência. E sabemos que “é no erro que se aprende a fazer certo”. Diz o livro que o primeiro mandamento de alguém que quer fazer as coisas certas é não lançar mão destas “desculpas socialmente aceitáveis”.
Mas porque são “socialmente aceitáveis”? São “socialmente aceitáveis” porque sempre são colocados como causa do fracasso um fato, um evento ou uma força totalmente incontrolável, completamente fora do nosso alcance, como, por exemplo, a situação econômica mundial, a cotação do dólar, uma catástrofe ou uma tragédia.
Esse mecanismo não faz parte apenas do mundo dos negócios, está presente em todas as instâncias de nossas vidas: no trabalho, nas relações interpessoais e na vivência comunitária. Por exemplo, quando nos atrasamos a um compromisso, usamos o trânsito ruim como desculpa, mas esquecemos que poderíamos ter nos prevenido para que tal situação não acontecesse, simplesmente, saindo mais cedo.
No evangelho de hoje o terceiro empregado quis dar uma desculpa desse tipo: “Senhor, sei que és um homem severo pois colhes onde não plantaste e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão”.
A parábola contada por Jesus diz que um homem antes de viajar deixa seus bens com os empregados. Não diz o que devem fazer, mas, curiosamente, ele sabe do que cada um deles é capaz, pois confia a cada um “de acordo com a própria capacidade”. E o que ele confia não é pouco: um talento equivalia a 6.000 denários, que era considerado o salário de um dia (entre 26 e 35 quilos de ouro). Mesmo o que ganhou menos não poderia reclamar, pois já era muito.
Já se falou que os talentos são os nossos dons, nossas capacidades ou aptidões ou nossos valores. O que fazemos com nossas capacidades e valores que foram dados por Deus? Nós os colocamos a serviço dos valores do Reino? Temos ficado a serviço da justiça, da liberdade e da vida, ou a serviço da injustiça, da escravidão e da morte para nós e para os outros? Muitos seriam tentados a dizer como o empregado que recebeu um talento: “Ah, eu tenho muitos problemas, então não posso fazer nada!”. Boa desculpa, a mesma que muitos dão a vida inteira, acomodando-se.
Somos uma pequena comunidade diocesana que recebeu muitos talentos do Senhor. Sim, recebemos muitos dons. Nas visitas que fiz recentemente a quase todas as comunidades, pude ver isso. Os dons de Deus estão em todos nós. Não só no reverendo ou nas lideranças, mas em cada membro da paróquia. E são esses dons e talentos que precisam frutificar. Decididamente, não podem ser enterrados, mas colocados a serviço do Reino. Que possamos evitar as desculpas esfarrapadas e assumir o compromisso cotidiano com a Boa Nova da salvação.
Que o Senhor nos abençoe. Amém.

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